“E depois dele Samá, filho de Agé, o hararita, quando os filisteus se ajuntaram numa multidão, onde havia um pedaço de terra cheio de lentilhas, e o povo fugira de diante dos filisteus. Este, pois, se pôs no meio daquele pedaço de terra, e o defendeu, e feriu os filisteus; e o SENHOR efetuou um grande livramento.” 2 Samuel 23.11,12
A Bíblia Sagrada ao mencionar a história de Samá e seu campo de lentilhas, e mais ainda, ao mencionar sua postura de defesa e de luta em relação a este campo, nos remete a pensamentos profundos a respeito dos reais valores da vida. Duas coisas são relevantes: primeiro o fato de que lentilhas não eram de grande importância econômica naquela época; segundo, o campo na verdade, era apenas um pedaço de terra. Mas o que levaria um homem a arriscar sua própria vida, se em tese o que estava em jogo não significava muito, levando em consideração as convenções sociais que ditavam as regras do que era ou não valioso. Na verdade, o valor da coisa não reside na própria coisa, mas no que sobre ela atribuímos de afetos. Para Samá, sua pequena plantação estava carregada de sentimentos. Poderia não valer absolutamente nada para ninguém, mas valia muito para ele. Primeiro porque certamente havia uma clara compreensão que se tratava de uma dádiva de Deus; segundo, porque tinha muito dele naquele lugar. Abrir mão de seu campo de lentilhas seria ingratidão para com Deus e uma afronta a si mesmo. O valor atribuído por Samá a esse campo tornava-o precioso e o fazia subir de categoria, de um simples campo, de uma simples plantação, para o seu mundo, o seu tudo, sua vida.
Pensando na família e suas representações na atualidade, percebe-se que a mesma está enfrentando um completo esvaziamento de sentido. A família deixou de ser um porto seguro, e tornou-se um ponto de ônibus, um lugar de passagem, um lugar de movimento. Habita no imaginário social, certa hostilidade ao ideal família, transformando-a numa “coisa” descartável, sem muito significado, portanto quase fútil. É obvio que me refiro não ao discurso, pois este parece intacto, e ainda defende a família, mas falo a partir do modo de funcionamento da família contemporânea, suas práticas, seus reais vínculos, suas escolhas, seus valores.
A Bíblia diz: “Porque, onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração”. Lucas 12.34. Nossas lutas, nossos enfrentamentos ganham força à medida do engajamento e envolvimento de nosso coração e o quanto de valor atribuímos ao “bem” pelo qual lutaremos. Eu vejo hoje a família como o campo de lentilhas de Samá, não tem muito valor pra muita gente, mas precisa ter valor para nós que vivemos debaixo do temor de Deus e entendemos o real propósito da família. É na família que nosso caráter é formado, nossos valores são construídos; é na família que aprendemos em primeira instância o sentido de uma boa amizade, de um abraço, de um sorriso; aprendemos a importância do respeito, da tolerância para com a diferença, é na família que somos levados a valorizar a vida. A família é de fato nossa primeira sociedade. Quem desqualifica a família, desqualifica-se a si mesmo enquanto ser social e se apresenta diante do mundo alienado e despreparado para enfrentá-lo. O caos social que experimentamos hoje pode ser justificado por vários caminhos, mas sem dúvida a desvalorização da família ocupa destaque.
Se a seguinte pergunta fosse feita: A família tem dignidade? É possível que muitos respondessem que sim e até ousasse dar algumas explicações ou até justificativas. Mas como diz Kant (Fundamentos da Metafísica dos Costumes): “Tudo tem ou bem um preço, ou bem uma dignidade. Podemos substituir o que tem um preço por seu equivalente. Em contrapartida, o que não tem preço, e, pois, não tem equivalente, é o que tem dignidade.” A família tem preço? Se tiver, então tem equivalência, portanto, pode ser trocada, negociada. A família tornou-se produto de mercado, podendo ser permutada por qualquer coisa, ou vendida por quase nada. Em troca de uma carreira profissional bem sucedida, acumulação de bens, ascensão social, aventura amorosa, viagem de negócios; ou ainda por coisas mais fúteis como: um time de futebol, uma escola de samba, um grupo de amigos etc. Troca-se a família por quase nada, sustentado por um discurso de liberdade e autonomia. Se a família é digna então não deveria estar à venda, ao contrário, deveria ser motivo de nossa luta e nos levar cheio de satisfação ao campo de batalha cotidiano, sem qualquer medo de arriscar nossa própria vida.
Mesmo que ecoe nos discursos vazios a proclamação de sua falência, a família tem valor insubstituível, inegociável, o valor da dignidade. Cuide de sua família, lute por ela e não a exponha em vitrine de liquidação.
“Mas, se alguém não tem cuidado dos seus, e principalmente dos da sua família, negou a fé, e é pior do que o infiel.” 1 Timóteo 5:8
Parabéns,precisamos de leituras como estas que nos preenchem de Paz e verdade!
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