quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O Perdão Produz Encontros

“E tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação” 2 Coríntios 5:18

    Gosto de pensar sobre o perdão como uma das armas mais poderosas no campo dos relacionamentos. Na ausência do perdão não há qualquer possibilidade de convivência. Somos gente, e como tal, errar faz parte de nosso registro. É possível esforço, boa vontade, sabedoria e outras virtudes como valores que nos permitam evitar (pelo menos boa parte das vezes), sobre a vida daqueles com os quais convivemos e amamos, o erro. Mas, cedo ou tarde o erro emerge como marca indelével de nossa humanidade e nessa hora vamos precisar aprender o caminho do perdão. Ou abraçamos o perdão como estilo de vida, ou nos enclausuramos nos guetos da solidão. Quem não perdoa termina sozinho!
    Mas se o perdão é tão necessário ou mesmo indispensável, qual o seu alvo? Imagino que a palavra mais perfeita para substanciar o objetivo do perdão é RECONCILIAÇÃO. É o que afirma o apóstolo Paulo, que Deus nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo. O perdão de Cristo produz reconciliação entre nós, pecadores e Deus. A marca da reconciliação é ENCONTRO. Toda manifestação de perdão precisa produzir encontros e mais que isso, bons encontros. Gosto da palavra de Martin Luther King a respeito desse valor: “O perdão é um catalisador que cria a ambiência necessária para uma nova partida, para um reinício.” Precisamos sempre de novas partidas, novos inícios, de encontros, de reconciliação. Há aqueles que afirmam: “eu perdôo, mas não quero convivência” ou ainda “eu perdôo, mas o quero bem distante”. Acredito que não foi esse o ideal de Deus quando nos enviou Jesus. Imagine Deus dizendo: “eu perdôo, mas não quero contato”. Quando Deus nos perdoou na eternidade, nos enviou Jesus, seu único Filho e sua marca foi ENCONTRO. Em Cristo, Deus estava dizendo: “eu perdôo e quero tocar a existência de vocês” ou ainda: “eu perdôo e quero caminhar com vocês”, o nome disso é: RECONCILIAÇÃO. Não existe perdão sem a possibilidade de novos encontros. O perdão não é um acordo de paz, que nos põe no stand by em relação ao outro; em que esperamos o primeiro sinal de desacordo ou quebra do protocolo para mais uma vez partirmos para o ataque; como acontece na Faixa de Gaza. Acho perfeito o entendimento de Machado de Assis a esse respeito, quando afirma: "Não levante a espada sobre a cabeça de quem te pediu perdão.” O perdão nos desarma, quebra a resistência dentro de nós e nos move empaticamente em direção ao outro.
    Se você acredita ter perdoado, então você entrou no caminho da reconciliação, da nova partida, do reinício, do encontro. Talvez não seja fácil olhar para os olhos de quem te ofendeu, mas peça emprestados os “olhos de Deus” e enxergue o seu ofensor como Cristo: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” (Lucas 23.34). Não julgue, perdoe, até por que: "Só quem entende a beleza do perdão pode julgar seus semelhantes." Sócrates.
     Se há significância para a vida, está nos relacionamentos. Então não percorra o caminho da fuga, é covardia e ao mesmo tempo é se furtar do melhor de Deus, que se revela no abraço de um irmão, no sorriso de um pai, no aperto de mão de um amigo, no olhar generoso de uma esposa. Quer viver intensamente: perdoe, reconcilie-se, encontre.

“Nada encoraja tanto ao pecador como o perdão.” William Shakespeare

Pr. Hilquias

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O que Wesley Praticou e Pregou sobre o Dinheiro?

John Wesley pregou muitas vezes sobre o uso do dinheiro. Possuindo provavelmente o maior salário já recebido na Inglaterra, ele teve oportunidades de colocar suas idéias em prática. O que ele disse a respeito do dinheiro? E o que fez com o próprio dinheiro?

John Wesley experimentou uma pobreza opressiva quando criança. Seu pai, Samuel Wesley, era pastor anglicano numa das paróquias que pagavam os menores salários do país. Ele tinha nove filhos para sustentar e raramente ficava sem dívidas. Uma vez John viu seu pai sendo levado para a prisão dos devedores. Portanto, quando seguiu seu pai no ministério, não tinha ilusão alguma acerca das recompensas financeiras.

É provável que tenha sido uma surpresa para John Wesley que, embora Deus o houvesse chamado para mesma vocação de seu pai, não o havia chamado para ser tão pobre quanto ele. Em vez de ser pastor numa paróquia, John sentiu a direção de Deus para ensinar na Universidade de Oxford. Lá, ele foi escolhido para ser membro do conselho do Lincoln College. Sua posição lhe garantia pelo menos trinta libras por ano, mais do que o suficiente para um rapaz solteiro viver. John parecia desfrutar de sua relativa prosperidade. Gastou seu dinheiro em jogos de cartas, tabaco e conhaque.

Enquanto estava em Oxford, um incidente transformou sua perspectiva acerca do dinheiro. Ele havia acabado de comprar alguns quadros para colocar em seu quarto, quando uma das camareiras chegou à sua porta. Era um dia frio de inverno, e ele notou que ela não tinha nada para se proteger, exceto uma capa de linho. Ele enfiou a mão no bolso para dar-lhe algum dinheiro para comprar um casaco, mas percebeu que havia sobrado bem pouco. Imediatamente, ficou perplexo com o pensamento de que Deus não havia se agradado pela forma como havia gasto seu dinheiro. Ele perguntou a si mesmo: O mestre me dirá “Muito bem servo bom e fiel”? Tu adornaste as paredes com o dinheiro que poderia ter protegido essa pobre criatura do frio! Ó justiça! Ó misericórdia! Esses quadros não são o sangue dessa pobre empregada?

O que Wesley fez?

Talvez, como resultado desse incidente, em 1731, Wesley começou a limitar seus gastos para que pudesse ter mais dinheiro para dar aos pobres. Ele registrou que, em determinado ano, sua renda fora de 30 libras, suas despesas, 28, assim, tivera duas libras para dar. No ano seguinte, sua renda dobrou, mas ele continuou administrando seus gastos para viver com 28, desse modo, restaram-lhe 32 libras para dar aos pobres. No terceiro ano, sua renda saltou para 90 libras. Em vez de deixar suas despesas crescerem juntamente com sua renda, ele as manteve em 28 e doou 62 libras. No quarto ano, recebeu 120 libras. Do mesmo modo que antes, suas despesas se mantiveram em 28 libras e, assim, suas doações subiram para 92.

Wesley sentia que o crente não deveria simplesmente dar o dízimo, mas dar toda sua renda excedente, uma vez que já tivesse suprido a família e os credores. Ele cria que com o crescimento da renda, o que deveria aumentar não era o padrão de vida, mas sim o padrão de doações.

Essa prática começou em Oxford e continuou por toda a sua vida. Mesmo quando sua renda ultrapassou mil libras esterlinas, ele viveu de modo simples, doando rapidamente seu dinheiro excedente. Houve um ano em que seu salário superou 1400 libras. Ele viveu com 30 e doou aproximadamente 1400. Por não ter uma família para cuidar, não precisava poupar. Ele tinha medo de acumular tesouros na terra, portanto, seu dinheiro ia para as obras de caridade assim que chegava às suas mãos. Ele registrou que nunca permaneceu com 100 libras.

Wesley limitava suas despesas, não adquirindo coisas que eram tidas como essenciais para um homem de sua posição. Em 1776, os fiscais de impostos inspecionaram suas restituições e lhe escreveram a seguinte sentença: “Não temos dúvidas de que o senhor possui algumas baixelas de prata para cada item que o senhor não declarou até agora”. Eles queriam dizer que um homem proeminente como ele, certamente possuía alguns pratos de prata em sua casa, e o acusavam de sonegação. Wesley lhes respondeu: “Tenho duas colheres de prata em Londres e duas em Bristol. Essa é toda a prata que possuo no momento e não comprarei mais prata alguma, visto que muitos ao meu redor almejam por pão”.

A outra forma pela qual Wesley limitava seus gastos era identificando-se com os pobres. Ele pregava que os crentes deveriam se considerar como membros dos pobres, a quem Deus havia dado dinheiro para ajudá-los. Portanto, ele vivia e comia com os pobres. Sob a liderança de Wesley, a igreja Metodista de Londres estabeleceu dois abrigos para viúvas na cidade. Elas eram sustentadas pelas ofertas recolhidas nos encontros e nas celebrações da Ceia do Senhor. Em 1748, nove viúvas, uma mulher cega e duas crianças viviam ali. Juntamente com elas, vivia John Wesley e outro pregador metodista que se encontrava na cidade naquela ocasião. Wesley se alegrava em comer da mesma comida que elas, à mesma mesa, antevendo o banquete celestial que todos os crentes compartilharão.

Durante quatro anos, a dieta de Wesley consistia principalmente em batatas, em partes para melhorar sua saúde, mas também para economizar dinheiro. Ele dizia: “Aquilo que eu guardo para comprar carne pode alimentar alguém que não possui comida alguma”. Em 1744, Wesley escreveu: “Quando eu morrer, se eu deixar dez libras para trás... você e toda a humanidade poderão testemunhar contra mim, dizendo que tenho vivido e morrido como um ladrão e salteador”. Quando ele morreu em 1791, o único dinheiro que estava em sua posse eram algumas moedas, encontradas em seus bolsos e em sua gaveta de roupas.

O que havia acontecido ao restante do dinheiro que ele ganhara em toda a sua vida, uma quantia estimada em trinta mil libras?[i] Ele o havia doado. Como Wesley havia dito: “Não poderei evitar deixar meus livros para trás quando Deus me chamar, porém minhas próprias mãos executarão a doação de todas as demais coisas”.

O que Wesley Pregou?

O ensino de Wesley sobre o dinheiro oferece diretrizes simples e práticas para qualquer cristão.

A primeira regra de Wesley acerca do dinheiro era “Ganhe o máximo que puder”. Apesar de seu potencial para o mau uso, o dinheiro em si é algo bom. O bem que ele pode fazer é infinito: “Nas mãos dos filhos de Deus, ele é comida para os famintos, água para os sedentos, roupas para os que estão descobertos. Ele dá ao viajante e ao estrangeiro um lugar onde pousar a cabeça. Por meio dele, podemos manter a viúva, no lugar de seu marido, e aos órfãos, no lugar de seu pai. Podemos ser uma defesa para os oprimidos, levar saúde aos doentes e alívio aos que têm dor. Ele pode ser como olhos para o cego, como pés para o coxo e como o socorro para livrar alguém dos portões da morte”!

Wesley acrescenta que ao ganhar o máximo que podem, os crentes devem ser cuidadosos para não prejudicar sua própria alma, mente e corpo ou a alma, mente e corpo de quem quer seja. Desse modo, ele proibiu o ganho de dinheiro em empresas que poluem o meio ambiente ou causam danos aos trabalhadores.

A segunda regra de Wesley para o uso correto do dinheiro era “Poupe o máximo que puder”. Ele insistiu para que seus ouvintes não gastassem dinheiro somente para satisfazer a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida. Ele clamava contra comidas caras, roupas luxuosas e móveis elegantes. “Cortem todas essas despesas! Desprezem as iguarias e a variedade, e estejam contentes com o que a simples natureza requer”.

Wesley tinha duas razões para dizer aos crentes para comprarem somente o necessário. Uma era óbvia: para que não desperdiçassem dinheiro. A segunda era para que seus desejos não aumentassem. O antigo pregador destacou sabiamente que, quando as pessoas gastam dinheiro em coisas que, de fato, não precisam, elas começam a desejar mais coisas das quais não precisam. Em vez de satisfazerem aos seus desejos, elas apenas os fazem aumentar: “Quem dependeria de qualquer coisa para satisfazer esses desejos, se considerasse que satisfazê-los é o mesmo que fazê-los crescer? Nada é mais verdadeiro do que isto: A experiência diária demonstra que quanto mais os satisfazemos, mais eles aumentam”.

Wesley advertiu principalmente sobre a questão de comprarmos muitas coisas para os filhos. Pessoas que raramente gastam dinheiro consigo mesmas podem ser bem mais indulgentes com seus filhos. Ao ensinar o princípio de que gratificar um desejo desnecessariamente tende a intensificá-lo, ele perguntou a esses pais bem-intencionados: “Por que você compraria para eles mais orgulho ou cobiça, mais vaidade, tolice e desejos prejudiciais? ...Por que você teria um gasto extra apenas para trazer-lhes mais tentações e ciladas, e para  transpassá-los com mais tristezas”.

A terceira regra de John Wesley era “Doe o máximo que puder”. A oferta de uma pessoa deve começar com o dízimo. Ele disse àqueles que não dizimavam: “Não há dúvidas de que vocês têm colocado o seu coração no seu ouro”. E advertia: “Isso ‘consumirá sua carne como o fogo’”! Entretanto, a oferta de uma pessoa não deve se limitar ao dízimo. Todo o dinheiro dos crentes pertence a Deus, não apenas a décima parte. Os crentes devem usar 100% de sua renda da forma como Deus direcionar.

E como Deus direciona os crentes a usarem sua renda? Wesley listou quatro prioridades bíblicas:

1. Providencie o que é necessário para você e sua família (1 Tm 5.8). O crente deve estar certo de que sua família possui suas necessidades e comodidades supridas, ou seja, “quantidade suficiente de uma comida modesta e saudável para comer, e roupas adequadas para vestir”. O crente também deve garantir que a família tenha o suficiente para viver caso haja imprevistos em relação ao seu ganha-pão.

2. “Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes” (1 Tm 6.8). Wesley acrescentou que a palavra traduzida para “vestir” é literalmente “cobrir”, o que inclui tanto moradia como roupas. “Conclui-se claramente que tudo o que tivermos além dessas coisas, no sentido empregado pelos apóstolos, é riqueza – tudo quanto estiver além das necessidades, ou no máximo, além das comodidades da vida. Qualquer um que tenha comida suficiente para comer, roupas para vestir, um lugar onde repousar a cabeça, e mais alguma outra coisa, é rico”.

3. Providencie o necessário para “fazer o bem perante todos os homens” (Rm 12.17) e não fique devendo nada a ninguém (Rm 13.8). Wesley disse que a reivindicação pelo dinheiro do crente que se seguia à família era a reivindicação dos credores. Ele acrescentou que aqueles que dirigiam o próprio negócio deveriam ter ferramentas adequadas, estoque ou o capital necessário para manter seu negócio.

4. “Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé” (Gl 6.10). Após o crente ter provido o necessário para a família, credores e para o próprio negócio, sua próxima obrigação é utilizar todo o dinheiro que sobrou para suprir as necessidades dos outros.

Ao dar esses quatro princípios bíblicos, Wesley reconheceu que algumas situações não são assim tão claras. A forma como os crentes devem usar o dinheiro de Deus nem sempre é óbvia. Por essa razão, ele ofereceu quatro perguntas para ajudar seus ouvintes a decidirem como gastar seu dinheiro:

1. Ao gastar o dinheiro, estou agindo como se o possuísse ou como se fosse o curador de Deus?

2. O que as Escrituras exigem de mim ao gastar o dinheiro dessa maneira?

3. Posso oferecer essa compra como um sacrifício a Deus?

4. Deus me recompensará por esse gasto na ressurreição dos justos?

Finalmente, para um crente que ainda estivesse perplexo, John Wesley sugeriu a seguinte oração antes de realizar uma compra:

“Senhor, tu vês que estou para gastar esta quantia naquela comida, naquela roupa ou naquele móvel. Tu sabes que estou agindo com sinceridade nessa questão; como um mordomo de teus bens; gastando uma porção dele desta maneira, em conformidade com o desígnio que tu tens ao confiá-los a mim. Sabes que faço isso em obediência à tua Palavra, conforme tu ordenas e porque tu o ordenas. Peço-te que isso seja um sacrifício santo e aceitável a Ti, por meio de Jesus Cristo! Dá-me testemunho em mim mesmo de que, por meio desse esforço de amor, serei recompensado quando Tu recompensares a cada homem segundo as suas obras”. Ele estava confiante que qualquer crente de consciência limpa que fizesse essa oração usaria o seu dinheiro com sabedoria.

[i] Essa quantia equivaleria a aproximadamente 30 milhões de dólares hoje.

Charles Edward White


Fonte: editorafiel.com.br

Culto à Satisfação Instantânea


“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.”  Eclesiastes 3.1

    O tempo deveria ser nosso aliado! Mas como pensar no tempo como aliado se o adjetivo da vez é INSTANTÂNEO. Esperar tornou-se um palavrão, quase uma ofensa que cabe processo judicial. Já afirma o dito popular: “tempo é dinheiro”. Se a bola da vez é ficar rico e ter sucesso, seremos mais simpáticos à cultura do “instantâneo” do que da “espera”.
    O mercado oferece de tudo para quem tem pressa: macarrão instantâneo, pipoca de microondas, pizza e lasanha congeladas; e que tal um China in Box ou um drive-thru do Mcdonald (mal dá tempo de escolher que já tem gente buzinando atrás). Tudo é pra ontem: o namorado, a casa própria, o casamento, o sucesso profissional, a aprovação no vestibular. 
    É uma pena o quanto perdemos por não sabermos esperar. As melhores coisas que tocam nossa existência passam pelo crivo do tempo, da espera. A chegada de um filho vai nos impor nove meses; o sucesso profissional tem como base quatro ou cinco anos de um bom investimento acadêmico; a formação de nossos filhos pode levar vinte anos de muito amor e dedicação; se deliciar com os frutos de uma jabuticabeira pode nos custar dez anos de espera; um amigo só se forma depois de muitas tempestades enfrentadas a dois; uma obra de arte, um bom livro, uma viagem perfeita, um feijão no fogão à lenha, um ipê amarelo florido, boa pescaria, netos correndo no quintal da casa, sabedoria, maturidade, tudo precisa de tempo; enfim, esperar é preciso para quem está a procura do que realmente vale à pena.
    O culto à satisfação instantânea é uma tragédia disfarçada de “bom negócio” que rouba de nós o melhor de nossos anos, de nossos sonhos, de nossa história de vida. Satisfação de verdade precisa de tempo. Como afirma o dito popular: “apressado come cru e passa mal”. E é verdade, em muitos momentos, o preço de nossa dor se deve à nossa pressa, à nossa busca pela felicidade pra ontem. Tem muita gente mal casada, mal amada, mal empregada, infeliz, desnorteada, vivendo cativa em prisões de alma e de espírito; simplesmente porque não soube esperar. Quem espera sempre alcança e quando alcança o sabor é de vitória, de satisfação. Diz o salmista Davi: “Esperei com paciência no SENHOR, e ele se inclinou para mim, e ouviu o meu clamor.” Salmos 40:1.
    Podemos e temos direito em Cristo de experimentarmos uma satisfação plena. Ele mesmo declara: “Tenho-vos dito isto, para que a minha alegria permaneça em vós, e esta alegria seja completa” João 15.11
   Quer uma alegria completa, quer satisfação de verdade? Fuja do hedonismo imediatista ou da busca do prazer, da satisfação para ontem; espere em Deus! Aprenda a lidar melhor com o tempo!

“Para quem sabe esperar, tudo vem a tempo.” Clément Marot (poeta francês renascentista)

"Eu, porém, olharei para o SENHOR; esperarei no Deus da minha salvação; o meu Deus me ouvirá." Miquéias 7:7


Pr. Hilquias

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

PRESENTEAR: manifestação de amor ou revelação do vazio?

    O pastor e educador Charles Swindoll, afirma em uma de suas obras que presentear é uma das linguagens do amor. De fato quando amamos presenteamos, e quando presenteamos declaramos nosso amor. Por trás da tarefa de escolher um presente, pensar na hora certa da entrega, o que escrever no cartão; está a revelação do amor, do carinho, da importância que a pessoa presenteada ocupa na vida de quem presenteia; seja um filho, uma esposa, um amigo. Mas, no contexto em que estamos vivendo, em que os vínculos entre aqueles que se amam é cada vez menor; o tempo gasto em convivência reduzido ou quase inexistente; os momentos de trocas, encontros, diálogos, brincadeiras, cada vez mais raros; o ato de presentear começa a ser questionado em termos de motivação e propósito. O sociólogo Zygmunt Baumam em A Arte da Vida, afirma que muitos compram “presentes caros para os entes queridos como compensação pelo pouco tempo que passam juntos ou pela raridade das oportunidades de falarem um com o outro, assim como pela ausência, ou quase ausência, de manifestações convincentes de interesse pessoal, compaixão e carinho.”
    Os presentes têm deixado de ser uma linguagem de amor, para torna-se uma moeda de troca. Troco minha ausência por um playstation 3; minha indiferença por uma moto; meu descaso e frieza por um jogo de panelas; a falta de abraços e sorrisos por uma viagem ao exterior; minha distância por uma televisão 3D e assim vou barganhando com o meu fracasso enquanto gente, que deveria dar ao seu igual, mais do que presentes, presença . 
    Presentear nem sempre comunica amor, mas vazio relacional, afetivo. A arte de presentear deveria ofertar junto com o presente o melhor de nós; de nosso amor, de nosso carinho, de nosso tempo; mas ao contrário, no mundo em que correr e ganhar dinheiro é a palavra de ordem (até porque temos que preparar o nosso futuro), não temos tempo pra ser, mas para dar. Então se não consigo ser marido, pai, mãe, amigo, irmão, então dou alguma coisa, comprada às pressas num shopping famoso, de uma grife famosa e fica tudo bem. Será?
    Na verdade nosso grito não é por mais um presente, mas certamente por presença, tempo de qualidade com aqueles que amamos. Tome cuidado com os seus tesouros, pois como afirma a Palavra de Deus: “Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.”  Mateus 6:21
    É importante termos o discernimento sobre quem e o que tem ocupado as primícias de nosso tempo e, portanto, a prioridade de nossa vida. Nada substitui um abraço, uma brincadeira com um filho, um sorriso gostoso compartilhado com um amigo, um gesto de amizade a um vizinho, um beijo na bochecha rosada de uma filha, um olhar significativo para um esposo. Gente precisa mais do que de presentes, gente precisa de gente.
   “Só podemos dizer que estamos vivos nos momentos em que nosso coração tem consciência de nossos tesouros.”  Thorton Wilder
    “No fundo de cada alma há tesouros escondidos que somente o amor permite descobrir.” Autor desconhecido



Pr. Hilquias



segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

E SE EU FRACASSAR?

     A vida, como a conhecemos, foi feita para dar certo. Parece impossível ou extremamente difícil ter que admitir qualquer tipo de erro. Na ideologia capitalista, somente os fortes, os preparados, os eficientes podem chegar ao pódio da vida. O conceito predominante não é de homem-gente, mas de homem-máquina, programado desde a mais tenra idade para produzir a qualquer custo. 
     No campo da fé, de forma sutil, tal discurso se apresenta maquiado de piedade. Homens e mulheres de Deus, fiéis, sinceros, justos precisam ter uma vida de sucesso, sem jamais esboçar qualquer tipo de cansaço. A palavra fracasso parece não combinar com fé. Mas esta não é a verdade sobre nós. Somos fundamentalmente humanos, essencialmente limitados, marcados por condições sempre aquém do perfeito. É obvio que não estamos sozinhos, nem desamparados; nem ao menos devemos entender o fracasso como fim da linha ou derrota; como afirma Jesus: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo! Eu venci o mundo” (João 16.33). No entanto, existe uma distancia abismal entre não admitir fracassar e ter a certeza da graça de Deus sobre nós, que nos põe de pé quando caímos. É o que ouve o apóstolo Paulo da parte do Senhor, ao ter negado seu pedido de ser liberto de um tal ‘espinho na carne’: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza.” (2 Coríntios 12.9a). A partir da aceitação dos mistérios de Deus, Paulo prossegue e declara: “De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo.” (2 Coríntios 12.9b). 
     Homens e mulheres de Deus, ao contrário que muitos imaginam, precisam lidar com múltiplas limitações e mesmo diante delas manter a convicção inabalável que estão debaixo do controle soberano de Deus. Como afirmam as Escrituras: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus...” (Romanos 8.28), isto inclui nossos fracassos. O maior desafio não é ter fé quando tudo der certo, mas continuar amando a Deus, sendo-lhe fiel e não perdendo o foco, quando tudo desmorona. 
    Precisamos acordar de uma vez por todas e recuperar a sanidade espiritual, que nos permita uma visão coerente a respeito de quem somos; “pois Ele (Deus) conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó.” (Salmo 103.14). Negar nossa condição humana, tentando nos impor e impor aos que nos cercam uma posição de imunidade diante das mazelas da vida, é antes de tudo, ignorância bíblica e na melhor das hipóteses, loucura. 
     Se a vida não incluísse limites, que sentido teria a fé? Como diz a Bíblia: “...sem fé é impossível agradar a Deus...” (Hebreus 11.6); para além de um desafio, que nos force a nunca duvidar do poder de Deus, esse texto nos adverte para o que é viver. Viver é também ser confrontado por nossas limitações. Se admito que preciso crer, que preciso buscar respostas do alto; admito consequentemente que tenho meus limites, que não sou capaz de fazer a vida funcionar por mim mesmo. 
     Um ser-humano vitorioso no mundo espiritual, não é aquele que sempre vence, mas aquele que permanece amando a Deus nas vitórias e nas aparentes “derrotas”. É preciso fé para remover montanhas, mas é preciso muito mais fé para continuar andando com Deus na ausência de respostas, na dor, nas perdas, nos “fracassos”. Se tem um texto que exprime bem o sentido dessa reflexão é Habacuque 3.17, 18. Ele diz: “Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado; todavia, eu me alegro no SENHOR, exulto no Deus da minha salvação.”

E se nós fracassarmos? E se tudo der errado? Ainda temos o Senhor! 

Quem tem Jesus, tem o melhor da vida!

"Tu és o meu Senhor; não tenho bem nenhum além de ti".  (Salmo 16.2)

Pr Hilquias 

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O Valor da Memória

“Então tomou Samuel uma pedra, e a pôs entre Mizpá e Sem, e chamou-lhe Ebenézer; e disse: Até aqui nos ajudou o SENHOR.” I Samuel 7.12
  
Somos marcados pela cultura do imediatismo e do sepultamento das memórias. Monumentos públicos são pichados, prédios históricos depredados, objetos antigos queimados etc. Mais que atos de vandalismo, trata-se de nosso modo de enxergar o mundo e dar sentido às coisas. E sinceramente, o que se revela é nossa incapacidade de perceber a importância de uma memória, de um registro. Trazendo esta realidade para o campo pessoal, em termos de princípios, não diferimos muito dos “vândalos”, que ultrajam os memoriais públicos, como que zombando do passado. Pois de forma similar, somos anti-preteristas, sepultamos nosso passado; esquecemos facilmente do que Deus nos fez, dos milagres que experimentamos, dos livramentos recebidos. Parece que o que conta é o momento, é o tempo chamado imediato. Não vivemos de passado, mas o passado que nos remete aos grandes marcos da nossa existência não podem ser apagados. Não se trata de apenas recordar, mas acima de tudo renovar nossa fé e gratidão. À medida que nosso olhar se desloca para o passado, e neste passado encontramos os momentos exatos em que fomos tocados por Deus, não tem como ignorar: nosso amor pelo Senhor é revigorado. Então, de certa forma, tal passado, marcado por milagres, não é registro morto, mas presente, que se manifesta em forma de profundo agradecimento.
Sei que existe um verdadeiro “culto” à informação nova, ao registro atual das coisas, em detrimento à história que ficou para trás. Como dizem: “jornal de ontem não vende”, a menos que seja para ser posto nos tapetes dos carros e portanto, ser pisado até que nem mesmo pra isso sirva mais. Mas nós que dizemos amar a Deus, deveríamos garantir que as vitórias graciosas recebidas de Cristo, jamais sejam esquecidas. O esquecimento está estreitamente ligado à ingratidão.
Samuel sabia a importância de uma memória e não permitiria que a grande vitória que Deus havia dado a Israel sobre os filisteus, fosse sepultada com o passar dos anos. Ele tinha conhecimento profundo do que Deus havia feito naquele momento sobre seu povo. Escolher uma pedra e chamá-la de “Ebenézer” (pedra de ajuda) foi uma grande expressão de gratidão e amor, pois na base desse ato estava a certeza: “Até aqui nos ajudou o Senhor”, e nós não vamos nos esquecer disso!  Uma boa memória guarda o que vale à pena. Já dizia o jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano: “A memória guardará o que valer a pena. A memória sabe de mim mais que eu; e ela não perde o que merece ser salvo.”
Erga seus memoriais, estabeleça seus marcos de vitória, registre as bênçãos de Deus, levante altares de gratidão, mantenha vivo o passado que te faz lembrar que você não está sozinho, mas ao contrário tem sua história marcada pela graça de Deus.

“E ofereçam os sacrifícios de louvor, e relatem as suas obras com regozijo.” Salmos 107.22

"Quando se gosta da vida, gosta-se do passado, porque ele é o presente tal como sobreviveu na memória humana." Marguerite de Crayencour (escritora belga)

Pr. Hilquias Fábio