“Quero, pois, que os homens orem em todo o lugar, levantando mãos
santas, sem ira nem contenda.” 1 Timóteo 2:8
O evangelho de Cristo sempre
apontou para a integralidade da fé; até porque uma fé fragmentada, um coração
dividido, um sujeito de muitas faces, uma vida de duplicidade nunca foi meta de
Deus para nós. Mas numa sociedade de espetáculo, o que vale é a estética das
coisas e não a essência das mesmas; o que conta são as representações no palco,
a atuação ou o faz de conta, e não o caráter do sujeito que atua. Se a máxima é
atuar, representar, fazer de conta, então, faz sentido a busca de uma
identidade mais versátil, mais flexível, capaz de ser um pouco de tudo e
atender, mesmo que esteticamente, as muitas demandas sociais; na família, no
trabalho, na igreja, nos relacionamentos de amizade etc. Mas, a grande questão
é que a lógica do Reino de Deus, quebra com esse modo de funcionamento
“versátil” e nos propõe a entender, internalizar e sobretudo viver a verdade, a
verdade de uma fé integral, que nos remete à vida de total transparência,
diante de Deus e dos homens. Paulo, escrevendo ao jovem pastor Timóteo, expressa
essa preocupação, propondo aos homens que orem em todo lugar, que levantem mãos
santas, mas que isso reflita a verdade da fé cristã, que nos conduz ao caminho
do acordo, da reconciliação, do perdão, da capacidade de amar acima de tudo; em
outras palavras, Paulo afirma: orem, levantem mãos santas, mas que o coração
esteja livre de ira ou contendas. Para Deus, o que conta não é o palco, em que
representamos os papéis idealizados por nós ou pelos outros, mas quem somos com
cara descoberta. Não adianta levantar mãos, como expressão de adoração ou “mãos
santas” como afirma Paulo, se no campo dos relacionamentos somos incapazes de
pôr à prova nossa fé e justificar pelas ações reconciliadoras nossa aliança com
o Deus da reconciliação. Se não tomarmos cuidado, podemos ser tomados pelo
sagaz engano, em acreditar que nossa fé só inclui Deus e nós. Na verdade, a
verdadeira fé cristã, não celebra a individualidade, mas a coletividade, pois
Deus quis pra si, uma família de muitos filhos. Alguém poderia perguntar: O que
minha fé em Deus tem haver com as pessoas? Ou ainda: O que meus relacionamentos
tem haver com o Reino de Deus? Eu afirmaria, a partir do pressuposto da fé
integral, que tem tudo haver. Não tem Reino de Deus, se pretensiosamente
levantamos “mãos santas” para Deus, se as mesmas mãos não abraçam, não acolhem,
não afagam, não expressam perdão, não aproximam, não socorrem. O Reino de Deus
extrapola e muito a minha relação exclusiva com o Eterno; inclui pessoas, e
pessoas com as quais preciso expressar amor e viver bem. Somente pessoas bem
resolvidas em seus relacionamentos, livres de mágoas, iras, ressentimentos ou
contentas podem levantar “mãos santas” em adoração a Deus. Como afirmam as
Escrituras: Se alguém diz: “Eu amo a
Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual
viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?” 1 Joao 4:20. Não adianta representar uma fé que impressiona no
templo, no levantar das mãos à Deus, se minhas mãos não tocam com graça e
misericórdia àqueles que me cercam; se sou incapaz de tolerar, em amor, as
diferenças dentro da família, do
ambiente de trabalho ou mesmo na igreja. Para muitos, é tempo de sair do palco,
parar de representar e amar de verdade, a Deus e ao próximo, pois “aquele que não ama não conhece a Deus;
porque Deus é amor.” 1 João 4:8.
Oremos em todo lugar, levantemos mãos santas, sem ira, nem contenda.
Pr. Hilquias
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