“Cada um só pode ser ele mesmo, inteiramente, apenas pelo tempo em que estiver sozinho. Quem, portanto, não ama a solidão, também não ama a liberdade: apenas quando se está só é que se está livre.” Arthur Schopenhauer, in 'Aforismos para a Sabedoria de Vida'
Somos convidados o tempo todo a fugir da solidão, pois a mesma é interpretada como ameaçadora; e conceitualmente de fato é. Mas a solidão pode ser compreendida de várias maneiras. A solidão pode ser vista como violência contra nossa condição humana, que grita por encontros, por comunhão; pode ser sinônimo de morte, de vazio, de ausência, de desprezo, de rejeição etc. No entanto, a solidão pode ter outra conotação, pode ser entendida como um espaço singular para expressão da verdade e manifesto da liberdade. Todos que desejamos crescer precisamos de certa dose de “solidão”. Em outras palavras, precisamos nos encontrar com nós mesmos, e a partir desse espaço de genuína liberdade, expressar diante de Deus nossas verdades. Nesse sentido, a solidão pode produzir alterações fantásticas em nosso caráter, visão de mundo, postura diante de vida.
Moisés, Abraão, Davi, Daniel, João Batista, Paulo e até o próprio Jesus Cristo precisou de “solidão”. Estar só, faz parte dos planos de Deus para a vida cristã.
Uma das passagens bíblicas que mais que chama a atenção a respeito desse valor é Mateus 6.6 “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.”
Jesus sabia o valor da “solidão” quando se está em questão buscar a Deus. É quando estou sozinho num quarto, que encontro plena liberdade, diante do Pai, para repartir com Ele verdades profundas sobre mim. É obvio que esta não é a única maneira de orar, mas é certo que é a mais profunda e geradora da mais extraordinária intimidade espiritual.
Cristo sempre esteve cercado de multidões, mas nunca abriu mão da maravilhosa experiência de estar sozinho com o Pai. “E, despedidas as multidões, subiu ao monte, a fim de orar sozinho. Em caindo a tarde, lá estava ele, só.” Mateus 14.23
A comunhão e solidão não são antagônicas, não se contrapõem; ao contrário, são dois lados de uma mesma moeda, pois a "solidão" nos prepara para vida em sociedade. Cristo como ninguém conjugou esses dois pólos de espaços vitais. Ele (Cristo) soube como ninguém valorizar os contatos, os encontros, as oportunidades de estar com gente, muita gente e com elas dividir os valores e milagres do Reino do Pai; mas nunca desprezou os preciosos momentos de "solidão"; momentos esses que lhe restauravam as forças e o potencializava a retornar às multidões com muitos sinais e maravilhas.
No meu entendimento, quem não está preparado para valorizar os momentos de “solidão”, jamais estará preparado para viver plenamente a comunhão. Pois, é à medida que exploro a solidão, como espaço de plena liberdade, é que posso tratar diante de Deus as verdades sobre mim.
Quer um conselho? Não despreze a “solidão”, mas use-a para encontrar caminhos nobres, para andar diante de Deus e diante dos homens com honra e dignidade.
Pr. Hilquias