quinta-feira, 10 de março de 2011

Autonomia e Fé

Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim. Gálatas 2:20


A abertura cultural no campo da ética, da moral, do mundo estético; a queda das censuras públicas, dos governos ditadores; as possibilidades de expressão por meio da arte, da música, da dança, da poesia; proporcionaram nas últimas décadas avanços consideráveis. Mas, juntamente com tais avanços, instalou-se a busca desenfreada por autonomia e liberdade. Ninguém mais aceita passivamente uma coação, um mando. Toda e qualquer ordem passa pelo crivo da liberdade pessoal, podendo ser respondida positiva ou negativamente. Tudo se tornou extremamente relativo.
Enquanto o assunto toca apenas a cultura, é possível, de fato, apontar muitas vantagens nesse tempo de autonomia humana. No entanto, por trás dessa cultura libertária, reina sutilmente uma filosofia humanista execrante dos valores espirituais, expondo cada cristão à uma avalanche de possibilidades de pecar; tudo em nome da liberdade.
O discurso é simples: “somos autônomos ”. Mas até que ponto autonomia é a plena vontade de Deus? Antes de qualquer coisa, é preciso entender o que está por trás desta palavra.  Autonomia do grego, autos = por si só +  nomós =  lei, ao pé da letra esta palavra significa “lei por si só”, ou “lei própria”. Autônomo é aquele que si manda, si governa, que tem a lei internalizada e, portanto, não precisa em tese, de uma lei externa.  Ele pensa e age na liberdade plena, pois se autogoverna.
A questão é que, o Evangelho nos propõe outro caminho, outro padrão de entendimento. Aquele que está em Cristo, crucificou seu “Eu”, sua vontade, suas leis, seus valores idiossincráticos, privados e estabeleceu como lei absoluta, a lei de Cristo ou a vontade de Cristo. Como o apóstolo Paulo afirma: “...vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim”.
Homens de fé, de certa forma são autônomos, se entendermos autonomia como maturidade para decidir sobre a vida; mas à luz da etimologia da palavra autonomia, é impossível um homem viver plenamente o cristianismo, o discipulado, sem que antes crucifique suas próprias leis e acolha a soberana vontade de Deus. Já dizia Jesus: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me” ( Mateus 16:24).
Alguns poderiam argumentar que o Evangelho produz liberdade; eu diria: é verdade. No entanto, a maior liberdade é aquela que nos permite romper com as cadeias do inferno e do pecado. Ao contrário disso, a liberdade e a autonomia têm sido usadas para justificar o pecado, o erro, as mazelas humanas. Se temos liberdade em Cristo,  então que usemos esse poder para amar a Deus e obedecê-lo.
O filósofo Greg Bahnsen, afirma em seu livro Teonomia na Ética Cristã que na autonomia o indivíduo é a fonte de sua ética, de sua lei, de sua moralidade. No entanto, na teonomia a fonte da Lei é Deus (Téo = Deus + nomia = lei). Se precisamos de alguma lei que conduza nossa história de vida, certamente, esta é a teonomia, a lei do Senhor. “A lei do SENHOR é perfeita, e refrigera a alma; o testemunho do SENHOR é fiel, e dá sabedoria aos simples. Os preceitos do SENHOR são retos e alegram o coração; o mandamento do SENHOR é puro, e ilumina os olhos.”  Salmos 19-7,8
É tempo de destronar nosso ego e devolver a Cristo sua centralidade em nossa vida. Se erramos nesse tempo, erramos por buscar uma lei própria, marcada por relativismos absurdos; erramos por ignorar a voz de Deus que se revela por sua Lei.

Precisamos de cruz, de sacrifício – “Já estou crucificado com Cristo”. Gl 2.20

“Porque qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas, qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará.” Marcos 8:35

Pr. Hilquias

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