“Sobretudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.” Provérbios 4.23
Vivemos numa sociedade subjugada pela tirania da vigilância, em que cada passo dado é observado pelas muitas câmeras espalhadas pelos bancos, comércios, escolas, hotéis, elevadores, ruas etc; uma sociedade nomeada por Gilles Deleuze, como sociedade de controle. Controlar foi incorporado ao modo contemporâneo de frequentar o mundo, e vivemos num verdadeiro confinamento social, em que nossos passos privados tornaram-se públicos. Mas, concomitantemente, existe um terreno pouco vigiado, pouco controlado; um terreno que corriqueiramente vive à merce do acaso, do destino, da sorte. Me refiro ao terreno das emoções, dos afetos. Nunca tivemos, na história da humanidade, um número tão grande de pessoas adoecidas afetivamente. Consequentemente, o que temos, é uma avalanche de crises conjugais, crises entre pais e filhos, desacordos entre patrões e empregados; contradições e contrariedades entre amigos de longas datas; enfim, uma tremenda dificuldade no campo dos relacionamentos. Os afetos nos afetam! De forma descuidada, passamos a cultivar sentimentos letais: ódio, ressentimento, amargura, inveja, vingança, mágoa, indiferença, frieza, desconfiança, insegurança etc. E o pior, convivemos com essa realidade como cegos, sem perceber a dimensão dos danos provocados em nossa existência, até que, num dado momento, adoecemos. Se fôssemos tão vigilantes quanto aos afetos, como nossa sociedade é em relação aos cidadãos, certamente seríamos muito mais felizes. Mas, ao contrário, o descuido quase generalizado é o que marca o universo afetivo.
Salomão, em sua sabedoria, afirma que acima de qualquer coisa, precisamos aprender a guardar o nosso coração, que simbolicamente pode ser entendido como centro das emoções; pois do coração procedem as saídas da vida, ou as decisões da vida. E é incrível como os afetos são determinantes das escolhas que fazemos ao longo da vida. Por traz do carro que andamos, da roupa que vestimos, das pessoas com quem convivemos, dos livros que gostamos de ler, dos lugares que frequentamos, dos estilos musicais que preferimos, das cores e sabores que apreciamos, tem afetos, tem sentimentos. E até mesmo o mais racional dos mortais, mesmo negando esse realidade, também decide a vida a partir dos afetos, mesmo que, nesses casos extremos, o afeto seja indiferença ou ceticismo. Os afetos nos afetam! Daí o desafio de colocar nossos afetos em ordem. Feliz é o ser humano que no campo das emoções consegue, mesmo que minimamente, se compreender e sabiamente administrar seus sentimentos.
Existem pessoas que no campo profissional são meticulosas, detalhistas, organizadas, controladas; mas no campo das emoções vive um verdadeiro tsuname e o resultado não poderia ser outro, senão um caos existencial. Tudo do lado de fora está aparentemente em ordem, mas no recôndito do coração impera a desordem.
Se alguém te perguntasse: como está o seu coração? Que resposta você daria? Gostamos de afirmar quando indagados, que está tudo bem, pois soa melhor dizer assim. Mas, se mergulharmos na alma de muita gente, vamos encontrar uma verdadeira bagunça, no que tange aos afetos.
Podemos e devemos esperar que 2012 seja um ano próspero, um ano de muitas realizações e conquistas, mas, o que será 2012, está diretamente ligado à maneira que vamos administrar nosso coração, nossos afetos. Põe em ordem o seu coração, põe em ordem seus afetos! Faça uma faxina bem feita, limpe, organize, selecione, escolha, descarte, mas não entre mais um ano com seu coração em desordem. Peça ajuda ao Senhor, se dobre diante dEle, grite por socorro, clame e ponha como valor norteador da vida, um coração leve e cheio de saúde afetiva.
"O coração tem razões que a razão desconhece." Blaise Pascal
"No coração do homem é que reside o princípio e o fim de tudo." Leon Tolstoi
Muito bonito o texto... e uma grande mensagem!
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