Curiosamente a palavra constranger significa impedir os movimentos, tolher o meio de ação, embaraçar. Fico pensando na dimensão do amor de Deus por nós e tento imaginar se existiria alguma coisa que pudéssemos fazer, que servisse de pagamento por tamanho amor. Mas, o que ofertar a um Deus que tudo possui, que é Senhor de tudo? Nada, absolutamente nada do que ofertarmos lhe acrescentará alguma coisa, “porque a terra é do Senhor e toda a sua plenitude.” (1 Coríntios 10.26). O amor de Deus nos constrange, nos deixa embaraçados, nos impede de agir. Nenhuma ação humana pode ser compensatória em relação ao amor de Deus. O que nos resta? Resta-nos a gratidão, resta-nos a adoração. “Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.” 1 Coríntios 6.20. Não podemos acrescentar nada ao Senhor, mas, podemos glorificá-lo com nosso corpo e espírito, como forma de gratidão, o que é, na verdade, a perfeita adoração que o Pai procura.
André Comte-Sponville em sua obra “pequeno tratado das grandes virtudes”, apresenta a gratidão como um eco. À medida que nos tornarmos gratos, perpetuamos a dádiva, pois esta passará a ecoar por toda a existência e jamais se perderá. Ao contrário, a ingratidão produz o sepultamento de grandes memórias e nos impossibilita de expressarmos adoração marcada pela verdade e pela sensibilidade. Tudo o que precisamos é de gratidão! Somos parte de uma cultura que aprendeu a pagar por tudo e que se surpreende com a dádiva. Não é incomum desconfiarmos de preços baixos, de liquidações e de brindes. E e se alguém com quem não temos vínculo de afeto nos presenteia, logo indagamos: “o que fulano está querendo?”. É nessa perspectiva que erramos, pois tudo que vem de Deus é dádiva não merecida, é presente, é graça e não se paga por presentes. Presentes recebemos e agradecemos. Me agride estar diante de um Cristianismo orientado pelo capitalismo que decididamente se relaciona com o sagrado e mais especificamente com Cristo pela via do pagamento. Devemos e precisamos ofertar, dizimar, frequentar cultos, servir ao próximo, mas, jamais, como forma de pagamento, apenas como forma de gratidão. O amor de Cristo nos constrange, nos impede de agir - “Que darei eu ao SENHOR, por todos os benefícios que me tem feito?” (Salmos 116:12) Só se paga amor com amor, e uma forma tremenda de expressão do amor é a adoração em tom de gratidão. “Amarás, pois, o SENHOR teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças.” (Deuteronômio 6.5) Não tente pagar pela graça, seja grato, ame, adore!
“A gratidão é o único tesouro dos humildes.” William Shakespeare
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